Entenda polêmica envolvendo transações suspeitas no Corinthians

Diego de Oliveira

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Um documento sobre possíveis movimentações suspeitas foi enviado para o Conselho de Controle de Atividades Fiscais (COAF) do Corinthians. Os movimentos seriam na conta-corrente do clube no banco Santander. A informação é do site "ge.com".

O valor movimentado na conta bancária entre 2 de setembro de 2024 e 5 de março de 2025 é de mais de R$ 1 bilhão, sendo que o Alvinegro recebeu R$ 507 milhões e gastou R$ 505 milhões.

De acordo com a publicação, a movimentação suspeita tem ligação com altos valores gastos em reservas em hotéis no exterior. Os gastos foram em cartões de crédito com vencimento em fevereiro.

Além disso, boletos bancários foram pagos com valor superior aos cobrados no período. O débito seria de R$ 108 mil, mas os pagamentos foram realizados na casa dos R$ 608 mil, quase seis vezes mais.

Em fevereiro, o COAF já havia reprovado as contas da gestão do presidente Augusto Mello, em especial o gasto do cartão de crédito corporativo do Timão.

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Segundo o órgão, houve gastos de R$ 4,8 milhões sem que houvesse a discriminação dos custos, ou seja, sem que se soubesse a destinação dos valores.

Outro ponto é o contrato de Memphis Depay. O vínculo do atacante com o Corinthians não foi especificado, ou seja, não foram demonstrados os gastos do Timão com o atacante holandês.

Por que as movimentações são suspeitas?

O COAF analisou que a forma como as movimentações financeiras foram feitas pela gestão de Augusto Melo pareciam "burlar identificação de origem, destino e responsáveis", o que facilitaria fraudes, corrupção e destinações ilegais.

Uma dessas movimentações sem identificação foi feita para pagar a PixBet, antiga patrocinadora do Corinthians. O Timão pagou a multa de R$ 20 milhões pela quebra de contrato com a empresa após o Alvinegro fechar com a VaiDeBet.

A empresa responsável por pagar a multa foi a OTSAFE, de Curitiba, identificada pelo COAF como empresa  que "poderia estar movimentando recursos de terceiros, com possível ocultação/dissimulação de recursos e outros ilícitos financeiros que possam se relacionar".

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A suspeita do COAF se deu por conta da OTSAFE ter movimentado valores acima do faturamento declarado da empresa. O clube recebeu os R$ 20 milhões em quatro pix realizados pela companhia paranaense.

Vale ressaltar que um dos motivos para o impeachment do presidente do Timão foi investigação da polícia que mostrou que dinheiro relacionado à patrocinadora "VaiDeBet" pode ter sido usado para lavar dinheiro do PCC, uma das principais siglas do crime organizado do Brasil.

O que é o caso "VaiDeBet"?

O caso "VaiDeBet" é uma investigação de supostas irregularidades no contrato de patrocínio entre a casa de apostas VaiDeBet e o Corinthians. O acordo, no valor de R$ 370 milhões dividido em três anos, foi anunciado em janeiro de 2024, mas foi rescindido no dia 7 de junho do mesmo ano por causa de suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro.

O repasse de valores da comissão de patrocínio da casa de apostas ao Corinthians por meio de intermediárias não autorizadas, incluindo empresas fantasma, é o alvo da investigação da Polícia Civil do Estado de São Paulo. O empresário Alex Cassundé, colocado como o intermediário da negociação, é suspeito de estar envolvido no esquema.

Até o momento, cerca de 20 testemunhas foram ouvidas sobre o caso, exceto Alex Cassundé. Dentre essas pessoas, estão Osmar Stábile, primeiro vice-presidente do Corinthians, e Luiz Ricardo Alves, ex-diretor adjunto do departamento financeiro do clube.

Augusto Melo será preso?

O indiciamento de Augusto Melo aconteceu na última quinta-feira (22/05). O dirigente corre o risco de ser preso, mas depende de critérios legais rigorosos, segundo o site "Lance!".

– A prisão preventiva exige provas do crime, indícios de autoria e um risco concreto, como destruição de provas ou continuidade delitiva. Sem isso, seria ilegal – explicou a advogada criminalista Beatriz Alaia Colin, do escritório Wilton Gomes Advogados.

O próximo passo cabe ao Ministério Público, que tem quatro alternativas: oferecer denúncia, solicitar novas diligências, requerer o arquivamento do inquérito ou, em casos cabíveis, propor um acordo de não persecução penal.

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Caso o Ministério Público decida apresentar denúncia e ela seja aceita pela Justiça, Augusto Melo passará à condição de réu. No entanto, isso não significa que ele será preso automaticamente.

Se for comprovado que Melo agiu com dolo, poderá ser condenado pelos crimes de estelionato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas podem ultrapassar 15 anos de prisão.

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Embora a Polícia Civil tenha apontado o Corinthians como vítima do esquema, dirigentes do clube ainda podem ser responsabilizados, caso fique provado que agiram com dolo.

Diego de Oliveira

Diego de Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo, turma de 2011. Trabalhou na TNT Sports por 11 anos e está no The Sporting News desde 2024.