Por que Textor transferiu Botafogo para empresa nas Ilhas Cayman? Como fica o clube?

Diego de Oliveira

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John Textor, dono do Botafogo, transferiu todos os ativos do clube para uma nova empresa criada por ele nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal no Caribe. A mudança foi aprovada pelo Conselho da SAF em 17 de julho. As informações são do "ge".

Na prática, a mudança tira o controle da Eagle, empresa da qual Textor é dono - mas não detém mais o poder de decisão por conta dos problemas com a gestão do Lyon -, e passa esse controle para o americano de forma integral.

A transferência contou com o aporte financeiro do bilionário Evangelos Marinakis, que apoiou Textor para completar o negócio.

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Além da mudança da SAF e dos ativos do Botafogo para a nova empresa, o Conselho aprovou um crédito de 150 milhões de euros, que pertencia à Eagle, para a nova companhia. Para isso, precisará pagar 100 milhões de euros para ter direito ao valor.

Outra operação financeira aprovada foi um empréstimo de 100 milhões de euros para o Botafogo. Como garantia, o Alvinegro cedeu todos os seus bens, incluindo a propriedade intelectual sobre a marca Botafogo, patrocínios, valores de vendas de jogadores, arrecadação com o programa de sócio-torcedor, direitos de transmissão e bilheteria.

Por que Textor transferiu o Botafogo para as Ilhas Cayman?

A mudança, na prática, mantém Textor no comando do Botafogo, já que o empresário não tem mais voz de comando no Eagle Group por conta dos problemas de gestão com o Lyon, que chegou a ser rebaixado por problemas financeiros, mas conseguiu reverter a queda com uma apelação nos tribunais.

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A Eagle, por seu lado, contesta a transferência e entrou com um processo pedindo para que o negócio seja impedido de ser realizado. A empresa alega que não tinha conhecimento da intenção de Textor com o Botafogo.

— Se não se impuserem freios, o Sr. Textor continuará a causar irreparáveis danos à Eagle e ao Botafogo, sobretudo por meio da iminente diluição da participação da Eagle no Botafogo e a concretização de operações complexas e lesivas, com terceiros, em jurisdições estrangeiras —, afirmou a empresa em processo.

De acordo com o "ge", a Eagle gostaria de substituir Textor no comando do Botafogo, intenção que também é vista pelo conselho e diretores do clube social, que não gostariam de uma mudança e apoiam a permanência de Textor.

Como o estatuto do Botafogo só permite uma mudança de comando com a aprovação do Conselho, a Eagle vê com dificuldade a possibilidade de troca de comando no Fogão, embora tenha iniciado tratativas com membros do conselho e diretoria.

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A Eagle gostaria de negociar o Botafogo com um terceiro, cortando Textor do negócio, mas enxerga na questão do conselho do Fogão o mesmo impeditivo.

Com isso, consideraria negociar a venda para o próprio empresário, mas entende que, enquanto Textor for dono do Botafogo e da Eagle, o negócio pode ser visto como fraude e contestado na Justiça.

A SAF do Botafogo, por seu lado, entrou na Justiça contra a Eagle pedindo um ressarcimento financeiro pelas vendas de Luiz Henrique, Igor Jesus e Jair para o Lyon. Como o time francês estava impedido de contratar jogadores por conta do Fair Play Financeiro, o Fogão alega que teve de negociar os jogadores com valores abaixo do mercado.

Como fica o Botafogo?

É difícil prever o impacto que as mudanças causarão no clube financeira e esportivamente. Em um primeiro momento, a diretoria entende que o técnico Davide Ancelotti tem conseguido blindar o elenco da turbulência extra-campo.

Caso as negociações não se resolvam de forma amigável, é provável que a disputa seja resolvida apenas nos tribunais, o que poderia causar um vácuo de poder no Botafogo.

O Fogão chegou a soltar uma nota oficial falando sobre toda a situação. Confira abaixo a íntegra.

A SAF Botafogo esclarece que sempre valorizou a colaboração dentro do ecossistema da Eagle Football e mantém o desejo de que essa parceria siga existindo, em benefício de todos os clubes que compõem o grupo.

Infelizmente, medidas adotadas por órgãos reguladores na França comprometeram o funcionamento dessa integração, resultando na interrupção dos acordos de cash pooling que vinham sendo benéficos para todas as partes. Diante deste cenário, tornou-se necessário formalizar, por vias legais, que o atual desequilíbrio financeiro entre as entidades aponta para a necessidade de reembolso à SAF Botafogo por valores anteriormente emprestados.

Além disso, algumas medidas corporativas foram adotadas, com o devido alinhamento junto ao nosso parceiro acionista, o Botafogo de Futebol e Regatas (BFR), visando permitir a entrada de novos aportes de capital no Clube, caso os reembolsos por parte da Eagle ou do Olympique Lyonnais (OL) não sejam viabilizados de imediato. Tais ações não tiveram caráter provocativo e a SAF Botafogo reconhece integralmente o direito de seu acionista majoritário de ter prioridade em qualquer oportunidade de investimento no Clube, antes que se considere a participação de investidores externos. Ressaltamos, porém, que tais investimentos não seriam necessários caso o OL consiga honrar com os reembolsos devidos.

Para fins de esclarecimento, destacamos que as ações societárias tomadas até o momento consistem apenas em autorizações legais e que não há, no presente momento, qualquer plano que vise à diluição da participação acionária do nosso sócio majoritário. Inclusive, tais medidas seriam necessárias para possibilitar que o próprio acionista majoritário realize novos investimentos.

Por fim, a SAF Botafogo reforça que qualquer eventual negociação envolvendo a venda de participação majoritária na sociedade, seja ela conduzida por John Textor ou por terceiros, deverá necessariamente passar por um processo de diálogo e negociação amigável com o atual sócio majoritário. Embora medidas judiciais e societárias possam ser interpretadas de maneira equivocada por parte da imprensa, é fundamental que nossos torcedores tenham plena ciência de que a SAF Botafogo segue tendo a Eagle Football como sua acionista controladora, e que esta, por sua vez, é majoritariamente controlada por John Textor. Reiteramos nosso compromisso para que todas as discussões envolvendo o futuro da SAF ocorram de forma transparente, responsável e respeitosa.

Diego de Oliveira

Diego de Oliveira é formado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo, turma de 2011. Trabalhou na TNT Sports por 11 anos e está no The Sporting News desde 2024.