O atacante Bruno Henrique, do Flamengo, foi formalmente denunciado pelo Ministério Público do Distrito Federal (MP-DF) pelos crimes de fraude em competição esportiva e estelionato. A informação foi publicada inicialmente pelo "Portal Leo Dias".
A acusação está relacionada a um cartão amarelo recebido pelo jogador em uma partida contra o Santos, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
🚨 O cartão suspeito de Bruno Henrique.
— Gols do Brasileirão ⚽️🇧🇷 (@golsdobrasil1) April 16, 2025
O jogador foi expulso no lance, esse cartão teria sido proposital para beneficiar familiares do jogador em APOSTAS.
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Além de Bruno Henrique, outras oito pessoas também foram denunciadas, incluindo seu irmão, Wander Nunes Pinto Junior; sua cunhada, Ludymilla Araujo Lima; a prima Poliana Ester Nunes Cardoso; e amigos próximos.
A denúncia, apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), foi assinada pelos promotores Rodrigo de Araújo Bezerra, Luis Henrique Ishihara, Christovao de Moura Varotto Junior e Stephany Nely Lobato. Ela se baseia em trocas de mensagens obtidas pela Polícia Federal entre o jogador e seus familiares, bem como na súmula oficial da partida entre Flamengo e Santos.
De acordo com o MP-DF, Bruno Henrique teria utilizado informações privilegiadas para beneficiar o grupo em apostas esportivas. O esquema consistia em antecipar que ele receberia um cartão amarelo durante o jogo — o que, de fato, ocorreu, conforme registrado pelo árbitro Rafael Klein, que apontou uma “ação temerária” como motivo da advertência.
O objetivo seria lucrar em plataformas de apostas esportivas, utilizando a certeza da punição como vantagem competitiva. Segundo os promotores, a ação caracteriza manipulação de resultado, o que configura fraude esportiva, além de estelionato por obter vantagem financeira indevida.
Agora, cabe à Justiça do Distrito Federal decidir se aceita ou não a denúncia, o que pode tornar Bruno Henrique e os demais formalmente réus no processo.
O Ministério Público quer que o jogador, se for condenado, pague R$ 2 milhões por danos morais coletivos causados pela fraude. Além disso, o mesmo valor foi solicitado como fiança, para o jogador comparecer a todas as etapas do processo.
Lista completa dos denunciados:
- Bruno Henrique Pinto
- Wander Nunes Pinto Junior
- Ludymilla Araujo Lima
- Poliana Ester Nunes Cardoso
- Claudinei Vitor Mosquete Bassan
- Rafaela Cristina Elias Bassan
- Henrique Mosquete do Nascimento
- Andry Sales Nascimento dos Reis
- Max Evangelista Amorim
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Bruno Henrique pode seguir jogando?
Por enquanto Bruno Henrique, pode seguir jogando normalmente, inclusive na Copa do Mundo de Clubes. Ele ainda não é réu: O Ministério Público do DF apresentou a denúncia, mas a Justiça ainda não decidiu se aceita ou não. Só após o recebimento da denúncia ele se tornaria réu formalmente.
Não há medida cautelar que o afaste dos gramados: Até agora, nenhum juiz impôs suspensão, afastamento ou outra restrição à atividade profissional dele como jogador.
O Flamengo também não se pronunciou oficialmente sobre afastamento: Até o momento, o clube não anunciou nenhuma punição interna ou afastamento preventivo.
No entanto, se a Justiça aceitar a denúncia e o processo avançar, ele poderá ter que responder a audiências judiciais, ser julgado e até enfrentar punições legais ou desportivas, dependendo do desfecho. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também pode agir se houver envolvimento em manipulação de resultado, o que pode levar a suspensão temporária do futebol.
Qual pode ser a punição para Bruno Henrique?
Se a Justiça aceitar a denúncia e Bruno Henrique for condenado, ele pode enfrentar punições tanto na esfera criminal quanto na desportiva. Veja abaixo os possíveis cenários:
Na Justiça Criminal (Código Penal e Lei de Combate à Manipulação de Resultados):
Fraude em competição esportiva
- Lei nº 13.155/2015 (Estatuto do Torcedor)
- Pena: de 2 a 6 anos de reclusão e multa
- Esse crime ocorre quando alguém interfere em resultado esportivo com o objetivo de obter vantagem indevida, como no caso de apostas.
Estelionato (Art. 171 do Código Penal)
- Pena: de 1 a 5 anos de reclusão, além de multa
- Aplica-se se houver comprovação de que houve prejuízo financeiro a terceiros com base em fraude.
Na Justiça Desportiva (STJD):
Se houver condenação ou até indícios sólidos de manipulação de resultados, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também pode puni-lo com base no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva):
Art. 243-A (atuar de forma a influenciar resultado)
- Pena: suspensão de 180 a 720 dias (ou até eliminação)
- Multa de até R$ 100 mil
Outros impactos possíveis:
- Rescisão de contrato com o Flamengo, caso o clube entenda que houve quebra de confiança ou prejuízo à imagem.
- Suspensão de patrocínios
- Proibição de atuar em outras ligas, dependendo de decisões de órgãos internacionais, como a Fifa.
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Caso Bruno Henrique: qual é a acusação
A Polícia Federal já tinha indiciado Bruno Henrique em 14 de abril. Ele e mais dez pessoas entraram em lista de suspeitos. Os investigadores encontraram, no aparelho celular do irmão de Bruno Henrique, trocas de mensagens que comprometem o jogador e o colocam diretamente ligado a um esquema de apostas. O atleta foi indiciado por estelionato e fraude em competição esportiva. Há suspeita do recebimento de um cartão de forma proposital.
A investigação foi iniciada em novembro do ano passado. Bruno Henrique é suspeito de ter tomado cartão propositalmente no jogo contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro de 2023, em 1º de novembro de 2023, para beneficiar apostadores que seriam próximos a ele.
Ele recebeu cartão amarelo e depois vermelho em questão de segundos, aos 50 minutos do segundo tempo. O amarelo aconteceu após falta em Soteldo. Já a expulsão ocorreu por conta de reclamação forte com o árbitro Rafael Rodrigo Klein. Rafael explicou todo o episódio na súmula:
"Informo que expulsei, por decorrência do cartão vermelho direto, o sr. Bruno Henrique Pinto, por me ofender com as seguintes palavras: “Você é um merda”, com o dedo em riste em direção ao meu rosto, após a marcação de uma falta e também após ter sido advertido com cartão amarelo. Após ser expulso, o atleta veio em minha direção, sendo contido pelos seus companheiros. Informo que me senti ofendido."
O Flamengo perdeu o jogo por 2 a 1.
Caso Bruno Henrique: as mensagens no WhatsApp
A PF analisou 3.989 conversas no WhatsApp de Bruno Henrique, sendo muitas delas vazias ou apagadas. Para os investigadores, isso pode indicar que o atacante deletou parte dos registros. Os agentes também apreenderam o celular do irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, e identificaram diálogos que mostram o envolvimento de Bruno Henrique no esquema para receber um cartão amarelo contra o Santos.
Bruno e o irmão, Wander, também alvo da operação da PF em novembro do ano passado, trocaram mensagens em 29 de agosto de 2023, quando Wander questionou o irmão sobre ele estar pendurado no Brasileirão:
"O tio você está com 2 cartão no brasileiro?"
Em resposta, o atacante escreveu: "Sim".
Wander segue: "Quando pessoal mandar tomar o 3 liga nós hein kkkk"
Bruno Henrique responde: "Contra o Santos".
Na sequência, Wander escreve: "Daqui quantas semanas?"
Bruno Henrique: "Olha aí no Google"
Wander: "29 de outubro", "Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão kkkkkk"
Bruno Henrique: "Não vou reclamar", "Só se eu entrar forte em alguém"
Wander então responde: "Boua já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso"
Caso Bruno Henrique já esteve no STJD?
Em 5 de novembro do ano passado, horas depois da operação de buscas da Polícia Federal, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) revelou que tinha recebido uma alerta da Conmebol em agosto de 2024 sobre o episódio, mas havia arquivado por falta de provas.
A decisão saiu após análise da empresa "Sportsradar", que apresentou relatório com a conclusão de que não identificou irregularidades.
"A Procuradoria considerou que o alerta não apontou nenhum indício de proveito econômico do atleta, uma vez que os eventuais lucros das apostas reportados no alerta seriam ínfimos, quando comparados ao salário mensal do jogador", comentou o STJD.
Porém, mesmo com o indiciamento pela Polícia Federal em 14 de abril, o caso não foi reaberto pelo STJD.
O presidente do STJD, Luís Otávio Veríssimo Teixeira, explicou o motivo do arquivamento em novembro de 2024.
– Houve uma análise, muito bem fundamentada pela Procuradoria, do fato do jogo em relação ao alerta trazido - o minuto em que se deu, o tipo de jogada, volume movimentado, eventuais alertas anteriores do atleta... Do que foi trazido para a Procuradoria até aquele momento, não teve como avançar. A grande maioria dos alertas não vira processo ou redunda em absolvição, por causa dessa dificuldade de instrumentos persecutórios. Num recorte de 2022 a 2024, nós temos mais de 150 alertas no Brasil em 2022, aproximadamente 120 em 2023 e 57 em 2024. Desses todos, nós tivemos, no âmbito da Justiça Desportiva, mais de 30 condenados. Todos esses condenados estão ligados a uma atuação persecutória do Estado. No momento em que se deu a análise daqueles elementos trazidos ao STJD, a Procuradoria consubstanciou um relatório com vários fundamentos e a conclusão foi pelo arquivamento daquele procedimento e, de fato, não havia elementos para o processo – disse Luís Otávio, em entrevista ao site "ge.com".
Caso Bruno Henrique: como foram as apostas
Segundo a Polícia Federal, existiram dois núcleos de apostadores. Um deles, formado por parentes diretos de Bruno Henrique, têm três pessoas: o irmão dele, a cunhada (mulher do irmão) e uma prima do jogador. O outro é formado por seis pessoas, a maioria delas com algum tipo de ligação com futebol – ex-jogadores de times amadores ou de futebol 7. Os dois grupos não têm relação, são dois núcleos diferentes. Em comum, apenas o fato de que todos moram em Belo Horizonte ou na região metropolitana da capital mineira.
Todos fizeram o mesmo tipo de aposta: que Bruno Henrique tomaria um cartão. A PF conseguiu detectar 13 apostas diferentes, feitas em três casas de apostas, por nove apostadores diferentes: três do núcleo de parentes e seis do "núcleo futebol". A investigação não descarta que outras apostas tenham sido feitas em outras empresas.
O valor somado das apostas feitas pelos familiares teria sido de R$ 1.642,58, com retorno de R$ 4.967,01 e lucro de R$ 3.324,43, segundo o site "Lance!".
- Wander Nunes Pinto Junior (Irmão) – Apostou R$ 380,86 e teve um retorno de R$ 1.180,67 (jogo contra o Santos)
- Ludymilla Araújo Lima (Cunhada) – Ludymilla realizou a aposta em duas plataformas. Na primeira apostou R$380,86 e teve um retorno de R$ 1.180,67. Na segunda casa de apostas colocou e R$ 500,00 e teve um retorno de e R$ 1.425,00 (jogo contra o Santos).
- Poliana Ester Nunes Cardoso (Prima) – Apostou R$ 380,86 e teve retorno de R$ 1.180,67 (jogo contra o Santos).
Isto não quer dizer que estes sejam os totais dos valores envolvidos no caso. Pelo menos uma das casas de apostas, a Betano, relatou ter retirado a do ar a possibilidade de apostar em cartão de Bruno Henrique quando percebeu movimentações incomuns.
Em 29 de julho de 2024, a CBF recebeu um alerta da IBIA (International Betting Integrity Association, órgão internacional sobre integridade do setor de apostas), encaminhado pela Conmebol, que alertava ser suspeita a movimentação de apostas para o cartão de Bruno Henrique.
A IBIA destacou a questão de as contas terem sido criadas na véspera ou no dia do jogo entre Flamengo e Santos, além do fato de várias apostas terem sido nos mesmos valores, no valor máximo permitido por cada casa de aposta e concentradas em um período curto de tempo.
A CBF então encaminhou o alerta para a PF, o Ministério Público do Distrito Federal (porque o jogo foi em Brasília) e o STJD. A PF assumiu a investigação e procurou a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda, responsável pela regulamentação das bets no Brasil. A SPA, a pedido da PF, identificou os representantes das casas de apostas no Brasil.
A PF, então, pediu às casas de apostas as identidades dos apostadores sobre os quais recaíam as suspeitas do relatório da IBIA. De posse dessas informações, a PF formulou à Justiça os pedidos de busca e apreensão.
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